Gestão pública e esportiva com o Vereador Dr. Marco Aurélio Cunha
Com a ideia de dar mais qualidade ao nosso blog, e proporcionar mais conhecimento ao nosso público, resolvi criar a entrevista do mês, onde estaremos entrevistando pessoas de todos os meios, sobre gestão, atendimento, educação, liderança e qualidade. Espero que vocês gostem e aproveitem, vamos usar o nosso blog como um espaço para grandes debates e mudanças. Conto com vocês. O nosso primeiro entrevistado, para fechar o mês de agosto com chave de ouro, é nada mais, nada menos, que o nosso Vereador da cidade de São Paulo, Dr. Marco Aurélio Cunha, ao qual quero agradecer muito por esta oportunidade que nos deu. Foi uma entrevista espetacular para marcar este início de novo trabalho. Antes da entrevista, segue abaixo um resumo do nosso entrevistado. Boa leitura a todos e um ótimo fim de semana.
Um grande abraço a todos.
Marco Aurélio de Almeida Cunha, 59 anos, é médico ortopedista há mais de 30 anos. Casado, é pai de 3 filhos, João Paulo, Luiza e Maria. Formou-se pela Universidade de Santo Amaro (UNISA) em 1978, com especialização em Medicina Esportiva, pela Escola Paulista de Medicina, e com residência em Ortopedia/Traumatologia no Hospital Matarazzo (1982 – 1983). Atualmente é uma das personalidades mais importantes no cenário esportivo brasileiro, tendo extensa atuação nas áreas médica e administrativa de grandes entidades do esporte nacional. Foi reeleito com 40.130 votos em 2012, foi o 2 º vereador mais votado do partido. Uma avaliação da ONG Voto Consciente feita no mesmo ano, escolheu Marco Aurélio Cunha como o 4º melhor vereador da cidade – levando em consideração a relevância dos projetos apresentados. Na classificação geral, ficou como o 8º melhor vereador da cidade entre os 55 parlamentares.
Entrevista:
1-) Dr. Marco Aurélio, boa tarde! Para o Sr. que vinha da medicina e do esporte, como foi a adaptação na política?
Boa tarde! Essa é interessante. Eu sempre digo, que a pessoa que não tem veia política, que não vem de família de políticos, que faz pela primeira vez sua tentativa de ingressar na vida pública, quando ela consegue, que foi o meu caso pela primeira vez, você entra em uma piscina sem saber nadar, essa é exatamente a sensação. Você entrou, é uma casa nova, que tem todas as suas regras, que tem o regimento, que tem o seu protocolo, tem suas relações institucionais, tem os seus poderes, a sua hierarquia, mas você desconhece tudo, é realmente eu não diria assustador porque as coisas não me assustam, mas é preocupante para quem chega, decifrar este enigma que é a vida pública. Eu sinceramente demorei um ano e meio, para eu me sentir razoavelmente inserido neste contexto e passar a produzir alguma coisa que fosse útil para a cidade. É preciso ter preparo, é preciso ter ambiente, é preciso ter conhecimento, é preciso se esmerar nas questões, se interessar, para você ter um bom resultado prático, isso demora. Eu até critico bastante, eu acho que a instituição pública deveria, para você ingressar nela, ter a obrigação de ter alguns conhecimentos elementares, ou uma vez eleito para não fazer restrições às pessoas que não tem oportunidade, você obrigatoriamente passar por uns 3 meses de aprendizado do que é a vida pública, para aí sim você poder legislar, fiscalizar o executivo, ter seu próprio mandato.
2-) Como o Sr. consegue administrar o tempo para se dedicar à medicina, à política, ao esporte e à família?
É muito difícil, mas sempre aprendi que o sujeito ocupado, ele faz muito melhor isso, do que o sujeito que tem o tempo ocioso. O tempo ocioso é horrível, você perde muito tempo, às vezes eu fico em casa um dia, um domingo tal, até minha esposa fala: “você já está incomodado né”? Porque realmente eu fico incomodado quando eu não tenho o que fazer, eu estou perdendo tempo, não é bom que seja assim, temos que ter também o tempo de liberdade, de lazer, de descompromisso com as coisas, mas eu aprendi tanto a viver nesta roda viva, desde o tempo de futebol e medicina Futebol eu fiquei trinta anos sem fim de semana direto, eventualmente um domingo quando jogava sábado, ou uma vez ou outra porque o fim de ano tem aquele espaço, mas é natal, ano novo, já chega janeiro tem pré-temporada com trabalho, e aquele que trabalha no futebol ele também durante eventuais férias, tem que estar programando o outro ano, então eu nunca tive sossego assim total. Esses últimos dois anos que fora do futebol, eu pude passar uma semana fora, ter um pouco mais de leveza, mas também fico incomodado (risos). Mas é gostoso você ter tempo com a cabeça fria, o difícil é ter a cabeça fria, mas a medicina para mim, ela é a minha igreja, quando eu estou no consultório, é um dos momentos mais agradáveis que eu tenho, porque ninguém me interrompe, o paciente chega, ele conversa você tem aquele clima assim de silêncio, como você estivesse num local sagrado, uma igreja, a temperatura é mais baixa. Então aquele exercício da medicina para mim, eu sou outra pessoa, eu falo brincando que eu tenho duas ou três vidas, cada uma delas em um papel, e sempre o mesmo verdadeiro, mas a condução das coisas é diferente, eu vou ao meu consultório, eu ouço com atenção, dialogo, examino, faço o diagnóstico, aquilo me dá um prazer absoluto, no hospital, no centro cirúrgico, operando com meus colegas, para mim é como se o mundo lá fora não existisse. Consigo separar perfeitamente, por isso que eu não canso, porque um me descansa do outro, às vezes eles se cruzam um pouquinho e dá um conflito, mas eu procuro organizar para que não dê então eu fico na minha vida de médico, daqui a pouco eu venho aqui (na câmara) que é outra coisa, completamente diferente, é aquele debate, aquelas confusões, conversa, projeto, reuniões, que é gostoso também, eu gosto disso, mas é outro dinamismo, aí a medicina fica longe, claro que as vezes um paciente liga e quebra um pouco a rotina, atendo tal, e aí vem o esporte, que também é lazer, embora seja difícil, quando eu trabalhava no São Paulo era mais conflitante, mas ele ocupa outra janela do meu cérebro, outro ponto, então também diverge. Hoje por exemplo, eu fui ao Palácio dos Bandeirantes almoçar com um grande amigo que trabalha no governo e o Leão foi junto, então conversamos à mesa de outras coisas, também de coisas públicas, e estas pessoas vão preenchendo a vida da gente com muito prazer, muita satisfação, então consigo separar bem e descansar de uma e outra e ter tempo possível para tudo, o que mais me incomoda, mas eu procuro ajustar também, é o trânsito e o tempo perdido no ir e vir, isso me incomoda muito, imagina o trabalhador comum.
3-) Como o Sr. viu, e continua vendo as manifestações nas ruas? O Sr. acha positiva estas manifestações?
Eu acho que a manifestação é legítima, ela é de uma insatisfação com a vida pública, com os impostos que pagamos, com a desatenção com elementos básicos, que é o transporte, a educação, a saúde, e um alerta para o homem público para que ele produza mais, esse é o ponto chave da questão. Ela passa do limite quando começam a vir reivindicações por vir, usando aquela que é legítima, correta, não digo nem silenciosa, mas que realmente dói na alma do homem público, ver que as pessoas estão reclamando daquilo que nós não fazemos, para quando vem agressivo, jogando bombas, colocando fogo em ônibus, em peruas, quebrando vidraças, agredindo os bancos, ela perde totalmente o seu conteúdo, o anarquista, o sujeito que confunde a cara pintada daquela época com a cara tapada desta época, eu não aceito, realmente pode ser que eu esteja ficando mais velho, mas a minha educação não permite dialogar com quem quebra uma vidraça, joga uma bomba, isso me incomoda profundamente e não é ideológico, não é ideológico, são normas e regras de educação, se aproveitam, querem ser protagonistas do caos, você pode, imagina centenas de pessoas, milhares de pessoas marchando em silêncio, contra uma determinada ação do Congresso, da Prefeitura, da Câmara, que peso isso não teria na nossa consciência, na nossa reflexão, para que tivéssemos que fazer realmente melhor, agora, quando vem um sujeito, joga pedra, quer entrar na marra, quer falar e gritar como se nós fossemos um elemento qualquer ou desqualificado, quebra qualquer relação de credibilidade. Acho que a maturidade é o manifesto seguro, pode ser de um menino de 16 anos, mas aquele que você olha e sofre com o manifesto, não aquele que você repudia, por que aí distancia e perde muito a credibilidade da argumentação.
4-) Qual a opinião do Sr. referente ao transporte público? Somente as faixas exclusivas de ônibus, é a solução para a cidade de São Paulo?
Absolutamente não. Eu até fiz um pronunciamento na Câmara, falando sobre isso, que não é com pincel e tinta que você cria faixa de ônibus, tem que ter estudo técnico, a média que o ônibus vai percorrer. Existem gargalos de início e fim, que não adianta você ter um percurso que dá resultado, se a frente, pelo próprio volume de automóveis causados pela faixa, você vai ter ali, uma obstrução similar a aquela, se não houvesse a faixa de ônibus, é preciso estudar isso com muita técnica, e eu acho que esses apelos fez com que a prefeitura, as pessoas do meio, tentassem com avidez, com rapidez, criar uma solução que fosse fictícia, real ou virtual para dar uma satisfação que estamos nos mexendo, mas quando você faz isso de uma forma ainda muito sem planos, não dá resultados, então eu acho que a da 23 de maio por exemplo, não surte efeito nenhum, o ônibus pode estar andando mais rápido naquele trecho, mas ele para a frente, para antes, porque os carros estrangulam a saída da faixa de ônibus, as faixas de ônibus tem que serem analisadas também no ponto de vista de que aquele piso onde o ônibus passa constantemente, vai ser triturado se não houver o preparo forte, com concreto para suportar o peso dos ônibus, a sua intensidade, aquele lugar vai ficar afundado logo, e nós perderemos a faixa de ônibus e não teremos espaço para o carro. Então eu acho que tem que ter conteúdo técnico, conteúdo de execução, pontos corretamente estabelecidos para as pessoas descerem e aproveitarem aquilo. Eu acho que está muito longe de nós aprovarmos, eu diria que são tentativas, não acho nem que são inválidas, mas não são soluções, são mais de satisfação, medidas paliativas. O grande futuro mesmo é realmente a construção de metrô, enquanto o governo federal não colocar dinheiro aqui na cidade, que sai da cidade para o governo federal, para investir na mobilidade humana e urbana, nós vamos ficar sempre enxugando gelo.
5-) O Sr. não acha que se apaga muito incêndio em nosso país, mas não se cuida das causas do incêndio? Em resumo, se dão soluções paliativas e não definitivas?
Sim. Uma das coisas que mais me incomoda são os recapeamentos asfálticos, não é possível, a gente viaja, e eu tenho oportunidade, viajei a vida inteira pelos clubes de futebol, conheci lugares incríveis, você vê a forma da construção daquelas cidades, é quase definitiva, e aqui é um remendo atrás do outro o tempo todo, são pavimentações e repavimentações, recapeamentos, que você sabe que duram seis meses, será que não é possível fazer uma construção definitiva. O que nós não temos aqui é a manutenção, então, pontes, viadutos e alças, hoje muito comuns, elas vão deteriorando, vão criando samambaias lá, e não tem um sujeito que vai lá para tirar aquela infiltração de água. Só vão mexer se alguma coisa acontecer. Então eu acho, que o orçamento deveria ter a verba indenizatória de manutenção. Eu morei no Japão, e eu me lembro bem, que as vezes faziam uma obra em cima de um negócio perfeito, mas porque estão mexendo se está tão bom. Porque nós temos este orçamento, e se a gente não fizer, nós perdemos este orçamento. Então nós usamos, mesmo que esteja bom, nós vamos fazer ainda melhor, então eles ficaram reforçando coisas, fazendo consertos ou manutenções em coisas perfeitas, porque havia verba destinada para isso. Você cria uma nova alça, uns viadutos novos, que são feitos rapidamente, porque já vem praticamente pré-montados, mas qual é a verba que nós temos para manter daquela forma, o seu gradil, seu parapeito, prevenção de acidentes, a sua pintura, a sua manutenção em termos de não ter oxidação de partes que as vezes são de metal, então, nós não vemos nada disso, na hora que está acabando aí vem alguém para falar que o negócio está ruim. Eu acho que falta muito aqui este trabalho, acho que há muita parceria com empreiteiras para ter muito negócio, muito negócio, muito conserto, e não há soluções definitivas, isso é que me incomoda no Brasil, nós não temos uma avenida que falamos, olha isso vai durar dez anos, uma Imigrantes, que é um pavimento perfeito, claro que precisa que se faça reparos, mas você sente ali a solidez da obra, aqui não, as obras são quase de cenário, você sabe que amanhã já está arrebentando. Fora o não aterramento dos fios que é outra coisas terrível, você olha para cima, cada vez mais com um número enorme de tvs a cabo, internet, esses cabos de fibra ótica, é um emaranhado de fios sobre a cabeça das pessoas, que precisaria ter um aterramento. A Sabesp e a Comgás, vira e mexe quebrando tudo que foi feito no dia anterior, não há como você conciliar essas tarefas para elas serem exatamente conjuntas. A prestação de serviço independe do governo porque são concessionárias, então é uma coisa caótica que não é ordenado e quem paga isso é o morador da cidade.
6-) Presenciamos em nosso país a muito tempo, inclusive nos “famosos” estádios feitos para a copa do mundo, que nós brasileiros costumamos fazer inaugurações sem que as obras estejam 100% concluídas. Por exemplo, entregam um hospital, mas a ala da UTI ainda não está funcionando, o estádio é inaugurado, mas os vestiários não tem água quente, o estacionamento ainda não está liberado. Por que isso acontece e qual a solução?
Porque eu creio que os aditamentos de contratos, eles são feitos para ganhar uma licitação, então tem um preço acima do mercado, cartelização dos negócios, poucas empresas são capazes de realizar tarefas deste porte, aí eles fazem o contrato, aí vem os aditamentos de contrato, vai aumentando, aumentando, aumentando o preço, se entrega com presa para fazer a função eleitoral, cumprir metas de apresentação, e vai acumulando falhas na ordem de entrega dos setores e isso vai acumulando, você está sempre faltando com alguma coisa, os prazos não são cumpridos, a liberação de verba eventualmente depende da continuidade do programa, aí não libera uma verba, atrasa, eu acho que é toda uma coisa talvez programada, para que custe mais caro, e segundo por falta de metodologia mesmo. Vai no Japão ver se isso acontece, vai nos Estados Unidos para ver se acontece. Eu acho que aqui há muito descompromisso do setor público com as suas obrigações, o Brasil é um país muito tolerável, tolerante, e isso faz com que o brasileiro assimilem, ah deixa, amanhã. Não há uma forma de cobrança que não é essa indevida de quebra quebra, mas da sociedade de quem paga imposto. Fica mais o intolerante, é mais aquele que nada tem, do que o sujeito que paga imposto, que tem cultura, conhecimento, ele não quer saber da vida pública, ah, aquilo lá é tudo uma droga, uma porcaria, ninguém presta, e ele também não se envolve, todo mundo aqui cuida muito do seu umbigo, e não cuida muito do público, do que é de todos. É o temperamento do brasileiro.
7-) Na opinião do Sr., por que a grande maioria dos políticos, promete algo, que sabem que não podem cumprir?
Porque hoje o plano de poder é vencer a eleição, não é cumprir metas, é ganhar a eleição, depois a gente vê, nós somos frutos do marketing político, hoje nós importamos e exportamos principalmente marqueteiros políticos, agora na Venezuela, e em outros países, os nossos marqueteiros estão indo lá para fazer filmes midiáticos, o trem que nunca vai existir, a ponte que nunca vai existir, o computador hoje aceita tudo, qualquer filme de computador você cria a ficção. A ficção dos grandes filmes e as montagens, são todas via computador, então você cria um filme romântico, um filme emocionante, e a população infelizmente acredita naquilo e apóia, depois que ganha, é outra história, depois nós vamos ver e fica neste impasse de soluções, porque na realidade eles sabem o que dá para cumprir e o que não dá para cumprir.
😎 Como o Sr. vê a educação em nosso país e na nossa cidade?
Nós estamos vendo o prefeito Haddad agora, fazendo mudanças na educação, eliminando a progressão contínua, sem repetição, sem repetência dos alunos. É muito difícil falar, criticar, porque é muito mais difícil fazer. Eu acho que passa por aprimoramento de professores, passa por instalações boas de escolas na periferia especialmente, passa pelo comportamento inadequado desta geração de jovens mal educados que não veem no professor uma figura maior, e tratam o professor como empregado ou alguém da sua rua, da sua turma, e com o apoio dos pais. As crianças estão muito malcriadas, malcriadas em termos de educação básica, social, transferem isso para a escola, desafiam professores, que ganham mal, e esse é o ciclo vicioso que fecha. Professor mal pago, professor mal treinado, professor que muitas vezes sofre agressões, instalações precárias, isso não pode dar conhecimento, só pode haver, o dia que as escolas forem muito bem aparelhadas, os professores muito respeitados, segurança para estes professores, porque a sociedade virou também muito hipócrita, o professor não pode mais dar uma bronca, que é bullying, aí o professor é agressivo. No meu tempo, imagina se eu olhava para o professor de forma distorcida. Professor era a mãe da gente lá na escola, pai e mãe, só não podia dar um tapa, mais o resto, falava grosso, e agente morria de medo de levar uma advertência, hoje não, a educação está horrorosa, é muita liberdade, pode parecer algum conservadorismo, mas eu ainda trago a educação que eu recebi, e se não fizermos uma interferência forte no comportamento destes jovens de cima para baixo mesmo, nós vamos criar uma sociedade caótica.
9-) Temos algumas coisas “novas” acontecendo em nossa cidade, como por exemplo, ciclistas andando ao lado de carros, motos e ônibus, a ecologia como grande tema, a importância do verde, da reciclagem, o tratamento do lixo, da água, a poluição, entre outras coisas. Acho importante que esta mudança de cultura comece pelas escolas, tendo uma matéria nova, com o nome, por exemplo, de Gestão ambiental e cidadania. O que o Sr. acha deste projeto?
Eu acho que as escolas particulares, elas já tem um pouco desta consciência coletiva, minha filha tem 11 anos, e ela tem muito aprendizado nestas questões ambientais, na diversidade religiosa, é um colégio de freira, mas ela tem estudos religiosos, quando eu imaginava que fosse religião e catolicismo, não, ela tem de todas as religiões, do judaísmo aos muçulmanos, ao protestante, tudo de forma muito clara, fiquei satisfeito com isso que ela está aprendendo, a forma que ela está aprendendo, bem evidente que é neutra, embora seja um colégio de freiras, e ela tem educação ambiental, ela vai visitar, mas claro, é uma escola privada que dá a ela esta oportunidade, acho que deveria sim no ensino básico, ter esta sustentação do meio ambiente, porque estas coisas mudam muito rápido, se imaginarmos que estamos falando de 50 anos, que é minha idade mais um pouco, tudo mudou, imagina o Brasil de 1960, era outro, passou muito rápido e nos atropelou com a evolução. Então hoje, já temos o whatsApp, o instagram, é tão rápido que não dá tempo de você se preparar para formar um ponto de educação, de equilíbrio em todas essas áreas, mas é preciso reagir, é preciso correr atrás disso, criar uma sociedade que seja participativa, que seja solidária, voluntária, que seja responsável, respeitosa, eu acho que isso começa realmente com aplicação de recursos na área social e na educação.
10-) O Sr. tem algum novo projeto que gostaria de divulgar em primeira mão ao nosso blog?
Temos vários, porque eles são assim de sequência lenta. Mas eu acho que a cidade não precisa de tanto projeto, você imagina 55 vereadores, que cada um faça um projeto por ano no seu mandato, nós teremos 4 projetos para cada um, são 220 novos projetos de lei na cidade, quando eu falo projeto de lei, é projeto de lei, não é homenagem, rua, não, projeto de lei, uma coisa que mude um pouco a sociedade, pensa que é fácil, então você tem que pensar muito. Eu agora estou com um que é a anotação do Valet, tem que anotar a quilometragem do carro, e está correndo bem. Quando você entrega o seu automóvel em um Valet, que não é um ponto fixo, é um ponto rotatório, você anota lá, é obrigado anotar a quilometragem e quando você receber ele de volta você verifica quanto que o Valet rodou com o seu carro. Então tem coisas que precisamos pensar, são regras de proteção, e veja como a sociedade vai mudando, jamais pensaria nisso, mas são regras de proteção, são estas situações que vão criando novas regras para proteger a sociedade. Eu fiz uma lei que é do atendimento público, umas regras de atendimento público, alguém me criticou, e falou, “mas isso é óbvio que tem que ser assim”, mas não está amparado por lei, então um sujeito que atende falando ao celular e manda você esperar, espera aí que eu já falo com você, está totalmente inadequada a forma como ele te atendeu, ou que ele levante e vai conversar com o companheiro dele do lado de trabalho e demora mais 10 minutos e você esperando por ele, é totalmente inadequado, mas onde está isso para você reclamar, amparado em lei, então nós fizemos foi aprovado, sancionado e eu acho que vai seguir como uma linha de conduta. Então agora está pautado em um regulamento de conduta, as regras são assim, muitas vezes você faz lei para apoiar a sociedade em alguma coisa que está falindo. O Rio de Janeiro lançou agora uma lei de punição de jogar detritos na rua, é uma lei interessante, a hora que começar a funcionar, as pessoas vão guardar o chiclete no bolso, um papelzinho enrolado, vão procurar uma lixeira, vai diminuir um pouco esta sujeira que a rua fica. Recentemente eu fui almoçar aqui no Centro com um tio meu, e nós fomos andando num sábado, nossa como isso aqui está limpo, aí um outro falou assim: “é mas vem ver isso de noite ou de manhã”, mas espera aí, se a prefeitura faz toda a limpeza e no dia seguinte está tudo sujo, a culpa não é da prefeitura, a culpa é do cidadão, cada um precisa fazer sua parte Então estes detalhes de educação, acho que o que mata é a educação. A educação do povo que não pensa de forma comum, pensa isolado. Eu vivi no Japão, e o que eu aprendi lá, é indescritível, vou ser grato a vida toda por ter tido esta oportunidade, é um aprendizado que não tem preço. Eles pensam no coletivo, aqui só pensamos no individual. Felizmente pelo menos, já diminuímos muito o número de pessoas que fumam, foi sensacional, imagine quantas bitucas de cigarro são jogadas nas ruas hoje, aquilo vira uma bola entupindo esgoto, entupindo bocas de lobo, porque é um material que vai grudando, agora você imagina o número de pessoas que jogam o cigarro na rua, hoje para as pessoas que fumam fora dos estabelecimentos, você vê lá um negócio redondo, para as pessoas jogarem as bitucas, então já é uma esperança.
11-) Qual o recado que o Sr. quer deixar para o povo da cidade de São Paulo?
Eu gostaria que o nosso cidadão, ele pensasse coletivamente, é isso, e lembrar que a rua é a extensão da sua casa, que a calçada é a moldura da sua casa, que ele evitasse fazer na rua, aquilo que ele não faria na sua casa, preservasse o bem público, que ele cuidasse do que é de todos, um jardim, um novo relógio que estão colocando, de um ponto de ônibus novo que estão fazendo, de uma praça que está com flores plantadas, que ele cuidasse daquilo como se fosse dele, é isso que eu acho que falta ao cidadão paulistano, e que tivesse respeito por tudo que está ao seu redor, que lhe pertence, embora não pareça, e esse descaso com o bem público me entristece. Quero que as pessoas cuidem das coisas, porque cuidar do bem público é cuidar de você mesmo. Ensinar as crianças a respeitar as praças, ser o exemplo, ser solidário com as pessoas, é isso que eu acho.
12-) Partindo para o campo esportivo. Saiu em todos os veículos de comunicação, que o Diretor Jurídico do São Paulo, Dr. Kalil Abdalla, pediu demissão para compor uma chapa de oposição a Juvenal Juvêncio, onde o Sr. seria o vice-presidente nesta chapa. Procede esta informação? Já está certo?
É certo, eu ser o vice-presidente não está colocado, embora esteja entre nós assim profundamente próximo, porque é dever de quem é candidato não estender ainda as suas posições de apoio em cargos e tal, mas eu acho que nós combinamos muito, porque ele é uma figura institucional brilhante, provedor de uma Santa Casa que só tem custos, que só tem gastos, e que ele conseguiu fazer daquilo um modelo de gestão, orçamento de 1 bilhão e 200 ao ano, quatro vezes o orçamento do próprio São Paulo, de onde só sai dinheiro, não é como um clube que tem recursos, tem televisão, tem patrocínio, não, ele tem que se virar para compensar o que o SUS não paga, ou deixa de pagar, um homem que tem aos seu redor personalidades públicas e políticas no país, com profundo respeito, e sabe fazer isso, então a figura institucional para o São Paulo, não haveria melhor do que o Kalil, ele me lembra muito o Marcelo Portugal Gouveia, e o futebol, eu tenho a ousadia de dizer, que eu sei fazer, acho que minha história mostra que eu sei fazer, então recuperar o prestígio que o futebol perdeu e dar a instituição de novo as relações que perdeu. Eu não faço só críticas a gestão atual, porque ela tem muitos méritos, mas esgotaram as ideias, e o material se fadigou, está na hora de substituir, houve um desgaste profundo, então está no hora de ter alguém que me lembra muito o Marcelo Portugal Gouveia e o futebol que eu creio que eu possa fazer melhor do que o que está aí, com mais resultado, acho que é uma parceria perfeita para o São Paulo, eu espero que o conselheiro o associado, enxergue isso como um grande momento do São Paulo, e que a gente em Abril do ano que vem, consiga vencer as eleições. O sentido de propriedade vem em qualquer lugar que você fica muito tempo no poder, eu até acho que na gestão pública, nas Câmaras Legislativas, nas Assembleias, só poderia ter dois mandatos, e todos os mandatos deveriam correr em paralelo, governador, prefeito, volta tudo. Você fez dois mandatos na Câmara Municipal, você sai para ser deputado, federal ou estadual, como se fosse um plano de carreira, dois acabou, para dar chance aos outros, porque você acaba tendo aqui com dois mandatos, o terceiro, um poder muito grande, já conhece o protocolo, já conhece a casa , onde você vai falar com um assessor, o jurídico, você fica dono do espaço, e o outro que quer ser candidato, quer estar no seu lugar, ele tem muito menos oportunidade, mas muito menos oportunidade, então você se consolida, enraíza e vira dono da Câmara, vira dono do processo político, e a coisa não anda, não muda, não tem novas ideias, as lideranças são as mesmas, vereador a cinco mandatos, a quatro mandatos, quer dizer, não há espaço para ninguém vir, isso é ruim para a democracia. Então é preciso que você saia, aí vem outros, mas também não volta, aí tem que sair vem outro, este rodízio, eu acho que seria fundamental, eu vejo deputado federal de 8 mandatos, não é possível, é emprego, vira emprego, emprego e carreira, ele fica ali buscando negócios, buscando oportunidades, buscando lideranças, ou seja, cria um bunker ao redor dele entrincheirado, ninguém consegue penetrar naquilo. São lideranças, são líderes do partido A, do partido B, do partido C e ele é o dono daquele pedaço, então isso é ruim para a democracia, ruim para as mudanças que o país precisa e para a renovação.
13-) Enquanto o São Paulo excursionava, o ex técnico Ney Franco, disse coisas, principalmente referente ao capitão e grande ídolo de milhares de pessoas, não só são-paulinas, mas que gostam do futebol, Rogério Ceni. O ex-treinador Émerson Leão, saiu em defesa do Rogério, e disse que o mesmo nunca agiu desta forma nas vezes em que dirigiu o São Paulo. O que o Sr. achou deste episódio?
Eu vejo como uma crise de comando geral, porque quando o auxiliar de cozinha esfaqueia o chefe, é porque faltou o dono do restaurante tomar conta, não é possível, ou o metre ou o gerente da casa, alguém não pode permitir que as relações caminhem para este tipo de situação, por mais que haja calor, vigor e discórdia, alguém tem que interferir, para que o processo não comece, diminua ou estanque, essa é a missão. Eu acho que o processo chegou num ponto, onde o treinador não era bem quisto, o jogador não o via com simpatia e as suas ordens não eram tão obedecidas, e ao invés de se tomar uma medida precoce, foi deixando levar porque queriam manter aquele status para não parecer que havia uma crise, e a crise é sempre maior quando você finge que ela não existe, então o São Paulo fingiu que não tinha uma crise e depois ela se tornou muito maior do que ela poderia ter sido se no começo fosse estancada, eu acho que erraram todos, mas poderia ter sido evitado.
14-) O Sr. não acha que o São Paulo se perdeu um pouco? Por que o São Paulo, antigamente, não muito tempo atrás, era tido como modelo, não vinha nada para fora, tudo era resolvido lá dentro, e hoje começou a vir muita coisa para fora.
Quando o clube fica muito grande, também é difícil as coisas não virem para fora, devemos entender o seguinte, deve acontecer as mesmas coisas em outros clubes, mas a repercussão é menor. Você imagina uma família de oito irmãos, tem muito mais briga do que a de dois, e vai aparecer mais, o barulho vai chegar no vizinho maior que a de dois, então quando você fica muito grande é mais difícil controlar completamente as situações que ocorrem, mas um bom pai, um bom chefe de família, um sujeito com rigor, ele não deixa o barulho chegar no vizinho. Então acho que este foi o nosso problema, nós deixamos as coisas acontecerem, não tomamos conta, tiramos o gestor, no caso era eu, não substituiu, os dirigentes disseram que eram capazes de cumprir a função do superintendente sem precisar contratar ninguém, eu diria que perdemos 2 anos e meio, 3 anos, e agora o Gustavo está lá nesta missão que é de conciliar, de observar, de trabalhar, diuturnamente. Mas aparece um dirigente dizendo que o voluntário é melhor que o remunerado, aí está claro que não é bem assim, é um retrocesso, eu fico indignado de ouvir isso de alguém que trabalha com marketing, que é moderno, tem que ser moderno, ágil. Dizer que o voluntário é mais digno ou mais honroso ou mais eficiente, que o remunerado competente, é um atraso brutal na história de qualquer coisa que possa acontecer.
15-) Temos diversos clubes no mundo que praticam de fato o profissionalismo, cito aqui, apenas alguns que vem sendo os principais nestes últimos anos, casos de Real Madrid, Barcelona e Bayern de Munique. Você acha que falta muito para chegarmos neste nível de profissionalismo e do nível de futebol apresentado por estas equipes? Será que vamos chegar lá um dia?
O futebol brasileiro ele não é arbitrário, não é posto em regras, dei uma entrevista agora para o Martinho, acho que está na Folha, porque que treinadores brasileiros não se sustentam na Europa e porque que não há treinadores estrangeiros aqui no Brasil, é por uma série de razões, mas o que acontece, é assim, primeiro não dá para comparar o poder econômico da Europa com o Brasil, mas isso pelo que se paga aqui hoje, nós poderíamos ter outra visão, o que acontece é que na Europa, o Bayern de Munique, um Barcelona eles tem jogadores comunitários da Europa toda que não são considerados estrangeiros. Quando o São Paulo jogou com o Liverpool em 2005, sabe quantos jogadores ingleses havia no Liverpool? Um, era uma seleção mundial, então é mais fácil fazer futebol assim, você vai lá e compra jogadores de um país europeu, você pega lá, tem um africano, outro brasileiro e o restante á alemão, espanhol, inglês, italiano, francês, é fácil montar um time assim, e não há competição canibal interna, porque é muito difícil um jogador do Real Madrid sair se ele for bom. O Cristiano Ronaldo saiu do Manchester United por uma fortuna, mas é difícil, é para fazer dinheiro, Kaká saiu do Milan, porque o Real Madrid tinha dinheiro, o Paris Saint-Germain hoje com o dinheiro do Qatar, está comprando todo mundo, mas via de regra, os jogadores se mantém, o Gerrard, está jogando até hoje no Liverpool, então eles conseguem manter os seus jogadores sem tanto assédio econômico, e por jogar em um palco que todo mundo quer jogar, e o brasileiro olha pela televisão aquela organização da Champions League, quer ir para lá. Então para você tirar dele esta vontade, só se aqui fosse muito organizado, não é, então falta arbitrar o futebol brasileiro, falta organizar, não dá para jogar um campeonato paulista com 20 e tantas datas, onde o jogador mal fez pré temporada e começa a competir, que coincide com libertadores e que já vai coincidir com outra competição, sei lá qual, então é muito difícil um calendário tão ruim, eu não sou a favor de juntar com o calendário europeu não, nós temos um país que é tropical, as férias das escolas são no fim do ano, somos um país que cultua o cristianismo, que tem Natal, então é diferente da Europa, que tem só alguns que param no fim do ano, por causa da neve, mesmo assim o campeonato prossegue, culturalmente, nós temos que fazer o nosso calendário, mas diminuir jogos inúteis, fazer um campeonato mais apurado tecnicamente, sem menosprezar os times pequenos, eles façam um torneio entre eles, arruma oito e joga um paulista com doze. A pré-temporada dos grandes e dos mais notórios, ela é muito mais sofrida. Isso então, é que precisa mudar, melhorar a qualidade técnica e a gente pode ter aí alguma luz e o jogador falar, pôxa, este campeonato é tão bom que eu prefiro ficar aqui.
16-) O Sr. acredita que nós vamos chegar lá? Neste nível de profissionalismo pelo menos?
Acho difícil, Acho difícil chegar, porque a Europa sempre vai ser a Europa e a América do Sul sempre vai ser a América do Sul. Paris é Paris e São Paulo é São Paulo, mas podemos ter campeonatos bons e tentar segurar os nossos jogadores por um tempo maior. Mas precisa ter uma Confederação Brasileira de Futebol mais vocacionada aos clubes, não a si mesma, ela é o melhor negócio do mundo, ela não paga salário, pega os melhores jogadores, faz os melhores contratos, faz excursões arrecadando bilhões e não paga ninguém. É como se eu chegar na sua casa e pegar uma BMW na sexta e te devolvo segunda sem gasolina e falo, olha, foi muito importante você ter me emprestado (risos), se bater foi sem querer, você resolve lá o problema, e você tem que ficar contente porque eu sou importante, você não.
Muito obrigado por nos receber e conceder esta brilhante entrevista. Contamos com o Sr.
Abraços
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